segunda-feira, 22 de agosto de 2011

É mentira mas dói mas é mentira mas dói

Tenho pensado muito num ponto que me interessa, há algum tempo, mas que não sei até que ponto consegui trabalhar nessa peça. A ideia de se trazer para a cena a própria noção de que é uma cena, ou seja, de que é ficção. A consciência de que o que os atores estão fazendo é uma mentira. Porém, sem que essa consciência deixe de ter consequências, inclusive emocionais, para eles.

Não é nova essa ideia, boa parte do teatro contemporâneo passa por ela, se fala muito de desdramatização no cinema ou do teatro pós-dramático. Mas ainda são poucas as obras que vejo que tratam do assunto em profundidade (menos no cinema do que no teatro). O que mais vejo são atores ou diretores que assumem que o drama não está mais na moda e colocam em cena uma proposta de atuação desdramatizada, sem emoção, blasé; ou então os que se restringem ao bom e velho acreditar em tudo e fingir que não existe público (ou câmera). Me interessa pensar que podemos assumir, como atores, que estamos em cena, que é tudo mentira, uma brincadeira... e ainda assim sentir alguma emoção. Como numa equação que termina numa dízima infinita: é mentira, mas dói, mas é mentira, mas dói, mas é mentira, mas dói, mas é mentira... mas dói, ou me faz rir, ou me acelera o coração, ou...

Pensando aqui também que, embora raro, já tem gente bem interessante brincando disso no teatro. Já no cinema... talvez o "Jogo de Cena", do Coutinho, seja um dos únicos filmes que já vi que toque no assunto. Filme genial, aliás.

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